13 de dez. de 2010

Relato de experiência

Histórico do paciente: No dia 04/04/2008, um jovem nascido em 04/04/1989 sofreu um acidente de moto e chocou a cabeça contra o meio fio, permanecendo em coma por 16 dias. Ele trabalhava no quartel e sua mãe era tesoureira de uma empresa. Atualmente, ele tem um quadro de tetraplegia com predomínio em hemicorpo esquerdo. Ainda não conseguiu a aposentadoria do INSS, tampouco receber o DPVAT. Sua mãe não está trabalhando (largou o emprego há 2 anos), pois agora dedica-se integralmente ao filho.
Antes de iniciar o relato desta mãe, vou escrever fielmente o que ela disse com os olhos cheios de lágrimas: “As pessoas acham que eu uso meu filho para ter preferência em fila, mas muito pelo contrário. Preferiria pegar uma enorme fila ao invés do meu filho ter se tornado um cadeirante. Eu realmente o levo para todos os lugares, pois não tenho coragem de deixá-lo sozinho nem por meia hora. Somos só nos dois”.
Iniciando a história, ela relatou que no dia 24 de novembro de 2010, às 11:30 h, foi pagar uma conta na lotérica da rua Coronel Antonino, ao lado da Conta Fácil, e se dirigiu para  o caixa preferencial, onde sem ao menos dar um bom dia, a atendente falou que só receberia a conta se o filho dela a entregasse com suas próprias mãos. Tal fato é muito difícil, pois este jovem tem uma forte espasticidade em membro superior, não possuindo, desta forma, movimento voluntário deste segmento. Surpresa com o tratamento da atendente, a mãe pergunta: “O que você disse?” E a “educada” atendente respondeu: “Ele tem que dar a conta na minha mão”.
Para não chorar na frente do filho, a mãe começou a conversar com ele para mudar o foco da sua atenção. Ela conta que ficou muito abalada com a situação, pela falta de consideração e desprezo com que foram tratados. Enquanto descrevia estes acontecimentos, seus olhos estavam marejados. Quando perguntei sobre a reação de seu filho, ela disse que ele é muito alto astral e sempre leva tudo na brincadeira, porém ela considera isso um escudo, pois ele ainda não lida bem com a dependência, pois sempre reclama: “Eu tento fazer as coisas, mas não consigo”.
Depois deste fato, a mãe diz que ficou com medo das situações e receio das pessoas, pois nem no Fórum nem no Posto de Saúde (Nova Bahia) existe preferência no atendimento para cadeirantes. E neste Posto de Saúde, no qual ele necessita ir todo o mês para solicitar guia médica para que seu filho possa realizar fisioterapia e terapia ocupacional, sempre os dois ficam esperando. Somente numa única ocasião uma médica se desculpou, explicando que ele não tinha sido atendido antes porque não paravam de chegar emergências no posto.
Além de todo este despreparo, há o problema das rampas e buracos na calçada, o que vocês devem ao menos imaginar que dificulta muito uma mãe que empurra um filho cadeirante de quase 90 Kg.
Essa mãe fala que acorda todo dia e batalha porque ele é seu filho, mas como ela mesma afirma: “É uma luta”! Mas a cada dia que passa ele se supera, o que serve de incentivo para ela.
Mesmo para quem não é cadeirante, ser recebido com tanto desdém em qualquer estabelecimento já é estressante e humilhante, imagina para quem já “mata um leão por dia”? Antes de qualquer grosseria e descaso, vamos aprender que educação e humildade sempre é o melhor caminho, pois se uma atendente de lotérica que fica no caixa preferencial (que teoricamente deveria ser treinada) trata uma pessoa honesta desta forma, onde vamos parar? Concordo com esta mãe quando diz que isso é uma luta! Por isso, aguardo mais relatos para que, através deste blog, possamos mudar um pouco a conduta de alguns.
Por Maria Alice Matos - Fisioterapeuta - alicefmb@gmail.com

8 comentários:

  1. Muito boa essa entrevista com essa mãe, espero q mais pessoas vejam esses relatos e se tornem mais humanas e aprendam a respeitar o direito de todos.

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  2. Bom, vejo que o blog será mais uma ferramenta de relato, desabafo, Conscientização ... Tenho 12 anos como cadeirante tetraplégico (lesão C5) e um dos ultimos constrangimentos, de centenas ja vivido, foi no bar miça (cg-ms), quando ao usar o elevador após a reforma começou um barulho horrível para subir, todos param para ver o E.T. de Varginha no elevador, o pior foi ao descer que o barulho cobriu ate o som da banda... extremamente constrangido fui embora, disse a mim mesmo que não voltaria lá... Mas após algumas manifestações até da emprensa quanto ao fato, fiquei sabendo que fora resolvido tal problema, e constatei que tinha mesmo quando voltei lá. Reinvidiquem!!!

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  3. Fiquei muito feliz com os comentários!!! E David, este blog tem sim o intuito de relatar experiências, porém o maior objetivo é testar a acessibilidade na prática, por isso realizaremos as visitas. E com certeza iremos no Miça!!! Espero que continue contribuindo com seu comentários!!!
    Abraço!!!

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  4. parabens pela atitude,esta na hora de começarem a ver as pessoas que tem alguma deficiencia, nao com diferenças e sim como batalhadores que nao deixaram de correr atras dos seus objstivos.........

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  5. Que relato o dessa mãe, infelizmente o descaso de muitas pessoas persiste e isso é muito triste,pois, o despreparo desse tipo de atendente é o reflexo de uma sociedade que só vislumbra seus próprios interesses, deixando de lado algo muito além das próprias barreiras arquitetônicas, que é a preocupação em tratar de maneira decente e educada a pessoa humana, pois, a deficiência é uma condição seja congênita ou adquirida de uma determinada pessoa que tem sentimentos, valores e aspirações de um cidadão que merece ser tratado com dignidade.

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  6. Oie Fred!
    Nossa, fiquei chocada com o atendimento nota "dez" que a mãe do cadeirante recebeu ao simplesmente ir pagar uma conta.
    Parabéns novamente por a iniciativa do blog, sem duvida este é um espaço para refletir e mudar um pouco desta historia.Que luta!
    Abraços
    Rê Cox

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  7. Olá Maria Alice, muito oportuno esse blog com vivências e indicações de acessibilidade aí na sua região; vamos seguir e opinar!
    Mrina F C Millioti
    Terapeuta Ocupacional

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